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Uma prova coletiva

Aprenda como organizar uma prova coletiva com base neste relato da minha experiência ao implementar este modelo avaliativo.

Conteúdos deste artigo
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    Organização das aulas da unidade didática

    A experiência que relato a seguir foi vivenciada no primeiro semestre de 2016,  na segunda unidade do componente curricular Enfermagem em Assistência à Pessoa Idosa, cursado pelos alunos do 8º semestre do curso de Enfermagem de uma instituição privada de ensino superior. Os conteúdos selecionados para esta unidade eram as principais manifestações clínicas presente nos idosos (incontinência urinária, fecal, distúrbio do sono, etc.) e as síndromes geriátricas (demências e Parkinson).
     
    Começamos a unidade organizando uma divisão de grupos de trabalho, onde cada um se responsabilizou por um tema referente aos conteúdos citados acima, realizou levantamento da literatura pertinente às principais manifestações clínicas presentes nos idosos, com leituras individuais e, nas aulas seguintes os grupos socializaram e discutiram a temática, focando: conceitos, classificações das patologias, fisiopatologia, tratamento e assistência de enfermagem. 
     
    As discussões foram bastante produtivas nas quais um grupo conseguia colaborar com o outro e fazer a relação entre as várias patologias, sem contar que, não apenas se prenderam aos aspectos biológicos do envelhecimento, mas também associaram a aspectos biopsico-sociais envolvendo o binômio idoso-família/cuidador.
     
    Não conseguimos fazer a discussão referente às síndromes geriátricas da mesma forma por conta de um feriado anterior ao dia de aula, e no seguinte os alunos (muitos residentes em outro município) decidiram que não teriam aula.
     
    Como na instituição temos uma semana definida para prova, para que pudéssemos contemplar o conteúdo, fizemos uma aula expositiva dialogada sobre as demências e o Parkinson; os alunos haviam realizado leituras prévias sobre as patologias, e alguns tinham conhecimentos vivenciados seja em estágio ou na vida com pessoas conhecidas e/ou familiares, portanto, conseguiram colaborar muito durante a aula, assim como esclarecer dúvidas.

    Conteúdo relacionado: 5 dicas de técnicas de ensino. Assista o vídeo clicando aqui.

    Processo avaliativo - o que considerei antes de optar pela prova coletiva

    Tudo que citei anteriormente já fez parte do processo avaliativo. Mas, ainda havia a prova. Ao elaborá-la, pensei! Depois de estimular a interação, a participação, a colaboração entre os colegas durante as aulas, por que não levar os mesmos princípios para a avaliação escrita? Foi então que surgiu a ideia de uma prova coletiva. 
     
    O primeiro item que analisei para definir se a avaliação poderia ser viável ou não foi o tamanho da turma, composta de 16 alunos, o que facilitava a operacionalização da avaliação. O segundo item analisado foi a maturidade da turma, baseado na forma como se organizaram, expressaram o conhecimento e realizaram as discussões anteriormente. O terceiro item, eu só saberia no dia da prova, que era a receptividade da turma à proposta.

    Como elaborei a prova

    A prova foi elaborada com casos com o foco nas assistências de enfermagem e apenas três questões objetivas relacionada a conceitos, fisiopatologia e tratamento. A pergunta que permeava a prova todo o tempo era: o que eu como enfermeiro/a posso fazer por este idoso/a e/ou seus familiares/cuidadores diante da presente situação clínica? 

    O momento da aplicação

    Ao chegar para aplicar a prova os alunos foram informados que a prova seria coletiva. O que percebi foram olhares de espanto e descrença, além de ansiedade por saber como seria, mas a proposta foi aceita; e como em toda turma, choveram  perguntas, principalmente porque era algo desconhecido para eles, até então. Passei a informar-lhes as “regras” da avaliação:
     
    • Cada aluno receberia e responderia sua prova individualmente, não podendo copiar questão do colega.
    • Cada questão seria lida pelo aluno que se dispusesse a fazê-lo, seria discutida e, ao final, cada aluno sintetizaria  e escreveria a sua resposta.
    • Nenhum aluno poderia começar a responder a questão seguinte antes que todos tivessem terminado a anterior.
    • A sala seria organizada em um círculo
    • Eu, enquanto professora do componente, ficaria de fora do círculo, apenas observaria e em nenhum momento interferiria nem verbalmente, nem gestualmente, a não ser que fosse para garantir o cumprimento desses critérios estabelecidos.
     

    Refletindo sobre a experiência

    Devo dizer que, não só para os alunos, mas para mim foi uma experiência muito rica. Enquanto eles respondiam a prova, eu conseguia avaliar a apreensão e apropriação individual e coletiva do conhecimento referente às temáticas, considerando a forma como foi trabalhada durante a unidade; e refletia ainda, sobre os aspectos pedagógicos envolvidos naquele momento. 
     
    Inicialmente, os estudantes sentiram alguma dificuldade de estabelecer a logística do trabalho, em alguns momentos uns atropelavam a fala de outro colega, mas logo surgiram em torno de 3 alunos que mostraram características de liderança e se revezaram nesse papel. Mesmo os mais tímidos, sempre pontuavam algo, sendo possível ver a participação de todos, quer seja discutindo a questão, discutindo a forma de sintetizar a resposta, argumentando quanto a pertinência ou não de algumas ações naqueles casos analisados. O desempenho individual ficou por conta desse poder de sintetizar tudo que ali foi discutido, imprimindo assim uma característica própria à avaliação.
     
    Foi mobilizado ali um conjunto de conhecimentos que não se restringiram à saúde da pessoa idosa, sua família e/ou cuidador. O trabalho em grupo, a colaboração, a capacidade de se colocar no grupo, se expressar, defender uma ideia, se fazer ouvido e ouvir o outro, respeitar as ideias contrárias, apesar de argumentar, etc., e até mesmo o abrir-se para novas experiências, pois, ao final de tudo, quando pedi para que expressassem a percepção deles sobre a forma como a prova foi conduzida, todos relataram nunca ter vivenciado algo assim e que consideravam como uma ótima experiência, onde a avaliação deixou de ser puramente um momento para verificar se haviam aprendido ou não, mas também se tornou um ‘lugar’ de aprendizado.

    Fundamentos teóricos para a prova coletiva

    Com o auxílio da minha então orientadora de doutorado, conheci a fundamentação teórica para esse processo. Denomina-se Team Based Learning (Aprendizagem Baseada em Equipes), uma técnica instrucional desenvolvida em 1970, baseada no construtivismo. Por não conhecê-la, talvez eu não tenha utilizado todos os possíveis critérios, nem seguido todas as etapas para sua execução, mas acredito que andei perto!
     
    Deixo o link de um artigo publicado na Revista de Medicina de Ribeirão Preto em 2014, falando sobre a Aprendizagem Baseada em Equipes: da teoria à prática, o qual estou estudando para aperfeiçoar o uso da técnica. Você pode visitar ainda Team-Based Learning Collaborative para conhecer mais.

    Refletindo e melhorando a técnica

    Este relato foi da primeira vez em que apliquei uma prova coletiva. Estudando os materiais mencionados acima e refletindo sobre a dinâmica da prova, surgiram melhorias na aplicação desta. Em uma turma seguinte, quando elaborei a prova, elaborei também um instrumento de avaliação e aí, a nota já não foi exclusivamente da prova, como na primeira.
     
    Elaborei uma prova com valor de 8,0 pontos e o instrumento de avaliação qualitativo valeu 2,0 pontos. Neste instrumento eu estabeleci critérios avaliativos que iam desde o cumprimento das regras para a execução da prova (por exemplo: não escrever enquanto os colegas comentavam – se escrevesse perdia pontuação; não fazer perguntas na hora da síntese individual das ideias – se o fizesse, perderia pontuação) até a avaliação da exposição de ideias pertinentes e adequadas às questões (por exemplo: o aluno fez contribuições para resolução dos casos da prova? As contribuições foram pertinentes? Etc.). E assim, durante a prova, eu os avaliei também. Esta nota da avaliação qualitativa foi registrada em um impresso próprio que continha também um parecer meu sobre o desempenho do aluno ao longo da unidade: o que foi positivo, o que precisava melhorar (por exemplo: para o aluno que percebi que não leu os textos indicados durante as aulas, coloquei na avaliação qualitativa que precisava melhorar seu envolvimento e processo de estudo extra-classe).
     
    Depois dessas duas turmas, já apliquei a prova em várias, e para mim e para os estudantes que participaram, tem funcionado muito bem a proposta, sempre assim com a nota dividida entre a prova respondida pelo estudante e a minha avaliação qualitativa em um formulário à parte, que depois também é entregue ao estudante junto com a prova corrigida, afinal eles precisam também deste feedback.

    Conteúdo relacionado: Quer saber um pouco mais sobre a importância do feedback para os estudantes? Veja o no post abaixo.

    Se preferir ver o conteúdo do artigo em vídeo, veja abaixo.

    Me conte nos comentários o que achou desta forma de avaliar? Que dúvidas surgem à sua mente sobre ela? O que pensa que seria mais difícil executar? 

    Me conte também, caso aplique em sua prática pedagógica, como foi a sua experiência.

    Te leio nos comentários.
     
    A reflexão sobre a prática pedagógica permite que nos formemos docentes diariamente.

    Artigo escrito em Maio de 2016 e revisado em Janeiro e Março de 2022.

    Profissão Docente

    Copyright©, Aldrina Cândido. 

    Enfermeira e Professora de Enfermagem desde o ano 2000, no ensino técnico, superior e pós-graduações, especialista em Formação Pedagógica, Mestre em Gerontologia Social, Doutoranda em Ciências da Educação.

    Publicado 28 de Maio de 2016.

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